quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Por onde andei, enquanto você me procurava..."



(Por Onde Andei - Nando Reis)

De repente eu percebi que olhava para dentro dos ônibus, dos bares, nas calçadas, em todo lugar, em qualquer lugar que eu estivesse, esperando lhe encontrar. Em qualquer lugar, em qualquer hora, de qualquer modo, sem cortesia, sem nada. Só procurava ver o rosto dele.
E o mais estranho era que todos os rostos começavam a parecer todos iguais. Iguais ao dele. E os ônibus passando pela rua, cheios de pessoas, mas tristemente vazios dele, pareciam uma oportunidade de me levar  até sua casa, até nosso inesperável encontro.
Mas meu carro andava. Afastando-me da possibilidade de meus sonhos se tornarem realidade.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

"Debaixo dos caracóis, dos seus cabelos."



(Debaixo dos Caracóis do Seu Cabelo - Caetano Veloso)

Ah, não briguem. Por favor não briguem. Senão a menina chora. Senão a menina não vai mais acreditar contos de fadas. Senão a menina vai querer sair do carro vermelho parado naquele trânsito e ir para bem longe. Senão ela vai crescer e ficar com medo de amar. Se amar é brigar com o amado, para que amar?
Não, não gritem. Senão vai deixar todos os sentimentos dela surdos. Senão vai deixar o ódio dela louco para imitar a gritaria de vocês dois.
Não, não fiquem em silêncio. Senão o vento frio da tristeza naquele sábado escaldante vai entrar pela janela do carro que a menina com caracóis ruivos na cabeça se apoia e substituir o lugar das palavras e deixar a menina fria. Se não o barulho das buzinas e do trânsito vai entrar no carro e cobrir os sentimentos já surdos da pequena menina que flutuam ao vento.
Isso, peçam desculpas. Senão a ruiva menina não aprende a perdoar.

(Tema: O que você viu ao olhar para fora?)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"Era uma casa muito engraçada..."

A velha senhora regava as plantas, que a cada dia puxavam mais e mais sua vitalidade e transformavam em beleza.
A casa branca em contraste com o chão de seu jardim com lajotas vermelhas puxava minha atenção toda a vez que eu passava por ela, mas sempre com pressa, nunca parava para deslumbrá-la. Mas naquela manhã de terça-feira, meus pés perderam a velocidade até pararem e desfrutei minha vida naquela casa com ar de antiga.
Me vi regando as rosas todas as manhãs, ouvi o som da feira das terças-feiras sendo barrado pela película de paz que cercava a casa. Me vi lendo um livro deitada no tapete da sala, e lendo o jornal no sofá na frente da janela.
Então, no meio do meu sonho, a velha senhora ergueu seus olhos das rosas e olhou para a garota com um violão nas costas, All Star nos pés, brilho nos olhos e a cabeça nas nuvens. Sorriu e eu, assustada por ter sido arrancada de meus pensamentos, continuei a andar.
Não sei se estava louca ou não, mas naquele sorriso da velha senhora e nos brilhos de seus olhos eu pude ler: "Bem vinda ao lar."


(Tema: O que você viu ao olhar para fora?)