terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"E pobre desses rapazes, que tentam lhe fazer feliz."


Todo o brilho daquele rosto claro feito porcelana estava, com certeza, fosco por causa das quantidades de nuvens que cobriam o céu e a alma da menina. Coitada da menina. Segurava com tanta força o colar em sua mão, que a mesma tremia. Mordia o lábio para não aparentar nenhuma emoção. Olhava com tanta esperança perdida para o céu, que era como se seus problemas fossem criar asas e voar lá para cima. Pensava com tanto carinho nas lembranças que aquele colar trazia consigo, que até parecia que elas iam vir correndo para o presente.

Mesmo que o ônibus estivesse quase vazio, ninguém pareceu reparar no som do estalo que sua mão fez quando a abriu com o susto quando um pingo de chuva caiu na ponta do seu nariz. Nem o barulho do seu colar quicando no chão sujo do ônibus. 
A menina olhou para o céu como se todos os seus problemas tivessem criado asas e voado lá para cima. Sorriu com a luminosidade que a chuva tinha levado embora e que agora devolvia para a devida dona. Sorriu porque, mesmo com o temporal que estava para cair em cima de São Paulo naquela quinta-feira nublada, o sol brilhou em algum lugar entre as nuvens e um fio de luz iluminou  seu sorriso, seu rosto, sua alma. Sua vida.

domingo, 16 de dezembro de 2012

"Dentro do som do silêncio."



(Sound of Silence - Simon & Garfunkel)

Lá de cima, bem de cima tudo parecia bem. A mesma agitação, o mesmo barulho, as mesmas luzes da Grade São Paulo. Naquela noite, por não ser muito diferente das outras, tudo parecia bem. Mas não estava. Pois se todos os carros desligassem o motor, se todas as luzes se apagassem, se todas as vozes se calassem, se todos parassem por um instante, iam ouvir. Iam ouvir o choro da garota. 
Não precisava-se de muito esforço, ela chorava alto. Chorava, soluçava, suplicava. Revivia o passado e se perguntava o porque de tudo aquilo. O porque daquele choro ardido, daqueles sonhos destruídos, daqueles dias perdidos.
As respostas vinham junto de mais lágrimas de desgosto. Desgosto da vida, desgosto do passado, do presente do futuro. Desgosto por procurar respostas e não achar nenhuma além daquela:Ele havia ido embora. Deixado-a ali, chorando, sozinha.
Se todos os carro desligassem o motor, se todas as luzes se apagassem, se todas as vozes se calassem, se todos parassem por um instante, iam ver como a garota suplicava por um futuro diferente.
Mas tudo continuou igual. A mesma agitação, as mesmas vozes, as mesmas luzes da Grande São Paulo. E nem erra preciso muito esforço. Ela chorava tão alto...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo."


(Aquarela - Toquinho)

Em um relance com os olhos eu vi. Dentro de sua pasta. Da pasta que você levava para casa todo dia. Na primeira "subpasta". era aquela em sanfona, preta, com elástico preto também, do jeito que você havia procurado tanto,  que eu tinha ajudado a procurar em uma terça-feira chuvosa em que você não queria voltar para casa. Aquela que você levava todo dia para casa. Na primeira subpasta estava ela, a folha da minha  monobloco, que estava em branco, mas ao mesmo assim guardava uma história, e o mais importante: você guardava-a.
Eu lembrava daquele dia. O dia em que você pediu uma folha e ninguém ouviu. E Então, rápida como um leopardo, eu tirei minha monobloco e, ahá, dei uma folha para você. 
Nãos sei se você se lembra, muito menos com tantos detalhes assim. Mas eu havia repassado tantas vezes os meus movimentos naquela aula de ciências que o professor só falava, falava, falava, por causa do que aconteceu depois. Você simplesmente olhou-a e colocou embaixo da sua carteira. Ignorada, rejeitada. E eu fiquei pensando o que eu fiz de errado para você não querer  minha folha. Mas agora eu sei. Você a guardou. Na primeira subpasta da sua pasta sanfona preta. Ela está lá. Perfeitamente branca. E eu aqui. 
Perfeitamente feliz.  

"A onde estiver, espero que esteja feliz."



(A Onde Estiver - NxZero)

"Somos muito bebes, né?"
No meio da gritaria que ocorria naquela sala, aquelas palavras flutuaram, até meus ouvidos e eu comecei a rir. "Qual o problema de sermos bebes?" eu me perguntava. Bebês são alegres, risonhos, verdadeiros. Choram quando acham que tem que chorara, não tentam ser perfeitos ou agradar alguém. Apenas são eles mesmos, procurando um jeito de serem felizes no meio de tanta tristeza que há nesse mundo. Tentam agradar à eles, só à eles, mais ninguém. Qual o problema de sermos alegres, risonhos, verdadeiros? Qual o problema de tentarmos ser felizes nesse mundo? Qual o problema de rirmos da vida? Porque uma vez um passarinho sussurrou no meu ouvido que, se não rirmos da vida, ela ri da gente.
Ser bebê quando mais velho deve ser a melhor coisa da vida. As pessoas hoje em dia só sabem reclamar da vida, ficam entendiada e sem graça, sem riso. Então, que sejamos bebês! Sejamos alegres, risonhos, felizes! A partir de agora, sorriremos para a vida. Porque eu juro que a vida é bonita. E seu riso também.  

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Não me conte seus problemas."



(Não Me Conte Seus Problemas - Ivete Sangalo)

A folha em papel branca. Apenas aquela seta piscando calmamente, afinal, aquilo acontecia todo dia: Ligar o computador, Facebook, Tumblr, YouTube, Blog. Escrever alguma coisa. Mas o quê? a seta piscando me tirava do serio, me tirava o sono. Coloque uma música! Música é sempre bom, alivia a alma, expressa o coração.
De repente lá estava eu, ao som de qualquer música, fazendo qualquer coisa menos escrever. Voltava á pagina em branco, com a seta torturante esfregando na minha cara que eu não conseguia escrever algumas simples frases. Mas eu lutava contra el e começava a escrever qualquer coisa. E apagava. E escrevia. E apagava. Até que o muito tarde chegava e eu ia dormir sem ter escrito nada. Ia me deitar e de repente, uma ideia me vinha como um gavião. E meus problemas tinham acabado. Pelo menos aquele.

"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça."


(Garota de Ipanema - Tom Jobim)

Ali, no cantinho daquela churrascaria, estava uma menina de cabelos cacheados que desciam pelas suas costas até a vista não poder mais ver, meio encolhida, meio com medo por ter tantas pessoas falando um língua quase desconhecida a sua volta. Meio em silêncio, enquanto observava as outras pessoas que estavam na mesma mesa que ela comerem. 
No meio de tanta muvuca que uma churrascaria pode ser, ela parecia um ser de outro planeta, tão quieta, tão graciosa enquanto comia aos poucos toda a comida que ofereciam a ela. Tão educada no meio de tantas palavras que cuspiam da boca para fora para ela, só para deixá-la confortável, que na verdade era a última coisa que ela podia estar naquele momento. Mas ninguém reparava, então ela continuava lá.

sábado, 24 de novembro de 2012

"Isso é tudo sobre a gente."


(All About Us - He Is We)

Também queria ter rido. também queria ter ido. Junto com você. Lá, ali, acolá, em qualquer lugar, até o fim. Do jeito que havia começado, risadas estupidas acompanhando piadas estupidas, garotos, esmaltes, maquiagem. Esse tipo de coisa, que quando estávamos juntas parecia normal de se falar. De se ouvir. Bilhetinhos e sussurros que não falavam nada com nada. Parecia que o mundo parava de girar para ouvir nossa conversa, mas também ao mesmo tempo, parecia que tudo passa mais rápido. Até a aula de ciências.
Esse vazio aqui do meu lado, o meu lado onde você geralmente sentava agora esta vazio. Vazio, sem ninguém, com "neca de pitibiriba" aqui. E do lado dela, do lado de sua nova melhor amiga, tem você. Todinha, falando, pirando, rindo, indo.
Também queria ter rido, também queria ter ido. Mas não fui.

terça-feira, 20 de novembro de 2012




Maria Flor de Assunção.
Maria era uma flor,
Que um dia foi plantada no chão, 
Prestes a florescer,
Para o mundo inteiro ver,
Que ela havia florescido em vão.


terça-feira, 6 de novembro de 2012

"Vamos voltar pro começo."


(The Scientist - Cold Play)

Ele acelerava o carro e íamos viajando para o passado. Onde ele percorria um trajeto enooorme de bicicleta para comprar pão. Onde suas roupas eram feitas na costureira. Onde minha avó era nova, e ser vó? Ih! muito longe. Onde meu pai jogava bola com o sol à seus pés e o sol à sua cabeça. Onde meu pai era criança. E naquela hora não era difícil imaginar um garoto andando de bicicleta onde agora eu andava de carro. Imaginar mato me cercando onde agora casas e asfalto predomina. Como se aquele momento fosse mágico, com um toque de vintage e uma pitada de união. União de pai e filha dentro de um carro, o pai contando, a filha imaginando e o menino pedalando. Juntos. De volta para o passado.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"A luz dos olhos teus."



(Pela luz dos olhos teus)

Olhos para mim dizem muito sobre as pessoas. Olhos fixos, olhos cerrados, tantos estilos de olhares que mostram um pouco do que a pessoa é. 
Mas uma coisa que eu percebi é que todos os tipos de olhares, todas as cores de olhos, todos, sem exceção, tinham seu brilho. Todos exibiam a alegria que existia dentro da alma, que subia e transbordava pelos olhos, deixando-os vivos, alegres. Brilhantes.
Até o dia em que eu olhei dento, lá no fundo dos olhos dela, da Menina dos Olhos Apagados.
A Menina dos Olhos Apagados sempre estava sorrindo. A Menina dos Olhos Apagados sempre estava falando. A Menina dos Olhos Apagados sempre ajudava as pessoas. Mas a Menina dos Olhos Apagados nunca estava feliz.
Aquele brilho de todas as manhãs quando ela abria a janela nunca contagiava sua alma, lustrava seus olhos. Nunca estava em seus olhos. Ela sorria, mas nunca de verdade. Parecia feliz, mas nunca por inteiro. Dava um aperto no coração, um nó na garganta, um frio na espinha ao olhar para aqueles olhos daquela menina.  Da Menina dos Olhos Apagados.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"A gente não se cansa, de ser criança, da gente brincar da nossa velha infância."

(Velha infância)

Uma caixinha no canto do quarto espera para que alguém a ache. Só está ali, esperando. Afinal, não pode fazer mais nada do que isso, é uma caixa! Então só espera. O que ela espera? Bom, espera  por alguém, talvez espere até por você, só quer que alguém a abra. O que tem lá dentro? Ah, sabia que ia essa pergunta ia chegar.
Lá dentro há uma infância. Guardadinha, tudo junto e misturado, brinquedos compartilhando o espaço com momentos e sonhos, do jeitinho que a garotinha crescida deixou para você achar. 
Se você abri-lá irá encontrar  uma bonequinha de pano um pouco rasgada por causa do uso. Com um vestidinho que um dia foi listrado, mas que desbotou. Ah, você não imagina o tanto de histórias que ela tem para contar. Cada lágrima, cada sorriso, cada frase, que talvez nem em uma vida dê para contar. Talvez até dê, mas não vem ao caso.
Se você tirar a boneca lá de dentro, irá encontrar cartas sem sentido nenhum. Apenas rabiscos de uma escritora sem uma fonte definida, morros que uma garotinha que nem escrever sabia fez com a caneta de pena muito cara do pai.
Se tirar a cartinha de mentira, irá encontrar umas palavras verdadeiras escritas do jeito errado. "R" ao contrario, "fazenda" com "M" em vez de "N" e "fazer" com "V" em vez de "F".
Depois de todas essas tentativas de escrita, vem livros. Quatro, na realidade. Vermelhos, com capa dura, antigos comprados em um sebo do centro de São Paulo com o título "Guerra e Paz" pequenininho na capa. Não que a garota conseguisse entender. Mas as figuras eram legais. Então ela passava tardes de invernos folhe-olhando o livro, imaginando que um dia leria-o.
Se você continuar olhando vai encontrar uma estrelinha apagada. Essa noite sim, ela foi especial. Foi a noite que a garotinha nem dormiu depois de ver o Peter Pan pela primeira vez e nem sequer ousou a  piscar o olho, olhando pela janela, esperando-o. Mas ele nem veio. Deixou-a esperando, acordada, olhando as estrelas, especialmente essa, para não esquecer como chegar lá. "Pegue a segunda estrela à direita e siga reto até o amanhecer." ela repetiu baixinho. Amanheceu.
A garotinha simplesmente piscou o olho durante aquela noite tão longa, e quando viu, estava fazendo essa caixinha para você encontrá-la, mas especialmente, para você cuidar bem dela.
Tome cuidado porque é frágil.
Tome cuidado porque a garotinha gosta muito dela.
Então cuide bem, porque você não vai ter outra caixinha além dessa.

(Tema: Uma crônica de lista)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Vou sentir falta de você começando brigas, e eu caindo, gritando que estava certa."



(We Are Nevre Ever Getting Back Together)

Os dois estavam ali, achando que o que estavam pensando estavam certo, "discutindo a relação" que na verdade não existia e nem existe, falando um para o outro como eles eram grossos e como não gostavam quando um fazia isso ou quando o outro fazia aquilo.
Era engraçado como os dois agiam de modos tão diferentes, ela toda louca e colorida, e ele todo tímido e reservado. Ele esperando que ela pedisse desculpas e ela pensando que talvez a culpa não fosse dele, mas com o ego alto demais para pedi-las logo. Não, claro que não. A culpa era dele. Não, claro que não, como pude pensar isso? era dela! 
No fim era dos dois.
"Peça desculpas para ele."
"Mas a culpa não é minha. É dele!"
"Deixa isso para lá!"
"Vai uma parte da culpa também é sua"
"Você me irrita!"
Bla, Bla e mais Bla. No fim pediram as maravilhosas desculpas. Mas "discussão da relação" ainda não tinha acabado. Nem nunca acabaria.

"Ensurdecido pelo silêncio, foi alguma coisa que eu fiz?"



(Astronaut)

Os dois estavam no ponto esperando que o destino fizesse alguma coisa para tirá-los daquele silêncio meio desconfortável,  de um passado distante, que nenhum dos dois nem sequer lembrava, mas ainda atrapalhava que alguma palavra que se dirigisse um ao outro saísse da boca de nenhum dos dois.
- Por que você não foi no ônibus?
Nem ela podia acreditar que alguma coisa tinha saído da boca dela. Agora seus olhos encaravam os rosto meio pasmo do garoto, esperando alguma resposta.
- É... - ele ainda pensa um pouco, meio que acordando de um sonho e finalmente, para o sossego da menina ele continua - Vou para a casa do meu pai.
- Como ele está?
Apenas perguntas por pura educação que os pais deles deram algum dia pairam no ar. Alias, apenas educação os mantem ali. E um ônibus, que naquela hora parecia demorar mais de uma eternidade para chegar.
- Ele vai bem, obrigado. E sua irmã? Conseguiu a vaga na universidade?
- Sim, mas naquela lááá em Campinas. Esta morando lá agora, com umas amigas. 
- Ainda bem, assim você consegue o seu próprio quarto, aquele que você tanto queria.
Ela ri baixinho e os dois começaram a lembrar. Como se começassem a ler um livro pela segunda vez e perceber que já tinham lido. Começaram a perceber que a tensão no ar do passado começa ser substituída por uma proximidade inexplicável. Começaram a perceber que aquele tipo de conversa entre os dois já havia acontecido naquele passado distante que os dois nem sequer se lembravam. E no meio de tantas lembranças desfocadas voltando para suas mentes, o ônibus chegou.
- Boa sorte com o quarto. Mande um beijo para sua irmã.
- Claro, até mais.
- Até.
E ele foi embora. Mas as lembranças desfocadas continuava na cabeça dela. E ela continuou ali. Pensando. Pensando naquele passado que haviam re-esquecido. Onde os dois eram felizes. 
Juntos. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

"E ainda espero, respostas."

(Respostas - Skank)

Fale baixinho. Isso mesmo, bem baixinho. Senão vão ouvir as coisas banais, mas muito importantes, que estão saindo de nossas bocas e que, no dia seguinte, iremos fingir que não sabemos de nada. Que não falamos nada. Coisas fúteis, que nos unem por uma noite, de algum jeito. Então fale baixinho.
Risadas baixas, sem muito escândalos. Que tosse escandalosa, garota!, mais baixo, mais baixo. Eu sei que é um pouco retardado o que estamos fazendo, como estamos agindo. Mas é bom para nós. É bom para todas nós.
Não vamos dormir agora não, nem pensar. Só mais alguns minutos. Está com sono? É eu sei, eu também. Mas aguentemos. Só mais cinco minutos, prometo de mindinho. Vocês querem também que eu sei.
Vai por mim, está sendo bom. Mesmo todas nós estando com sono. Mesmo todas nos estando contando coisas sem sentido. Pois na noite seguinte diremos: Venham! Venham! Vamos conversar. Vamos ter aquela conversa de novo.

(Tema: Uma crônica sobre Paraty)

"Que vem e que passa."



(Garota de Ipanema - Tom Jobim)

No meio de tanta informação do lado oeste de São Paulo ela parecia tão amarela, tão frágil, tão livre. Uma borboleta voando perto daquele monstro de metal parecia uma miragem voando por ai, esperando para ser vista.
Mas ninguém via.
Olhando para todos os lados só via pessoas apressadas, estressadas, "igualizadas" andando pela pequena faixa de pedestres de uma rua do lado oeste da cidade, sem nem ao menos perceber o bater das asas da pequena borboleta amarela.
Mas ela nem parecia notar.
Voava decidida por entre aquelas pessoas estranhas e o ônibus colossal, arranjando espaço para que sua delicadeza não se desmanchasse. Parei e deixei que a borboleta passasse. E ela seguiu seu caminho. Tão amarela, tão frágil, tão livre. E eu sorri e segui meu caminho. Tão cinzento, tão duro, mas agora tão livre.

(Tema: Unidade)

"Não precisa dizer adeus."

(The Call - Regina Spektor)




Fazer uma crônica nunca tinha sido uma tarefa muito difícil. Mas agora, escrever algumas palavras no computador parecia... Parecia... Na verdade não sei bem o que parecia. Mas era difícil. Talvez por ter tantos sentimentos camuflados no meio das palavras que eu usava para tentar expressar tudo que havia acontecido naqueles três dias, eu travava. E sentia que algo estava faltando. Uma frase, uma palavra. Talvez até um texto inteiro.Um texto inteiro para falar como aquilo tudo tinha sido um sonho. Para mostrar que ia ser difícil de deixar a vida seguir normalmente, sem que todas as vezes que eu visse uma foto, um nó se formasse em minha garganta.
Mas a vida continuava. Tão rápida como antes. Como um anestésico para a saudade. Mostrava que talvez existisse vida depois de tudo que havia acontecido em tão pouco tempo. Mostrava que não era tudo que tinha ido embora. Não para sempre. O que aprendemos continuava lá, as pessoas, as fotos. As lembranças. Lá no que chamamos de mente, que guarda tudo isso, aguardando pacientemente o coração parar de choras de saudades para começar uma fase nova da vida velha. Cheia de despedias como essa.
E sentada aqui escrevendo isso, penso, repenso, e chego em uma conclusão não muito boa, mas agora, nesse momento, é bom de se pensar: "Se há despedias, é por que houve chegadas."
E uma chegada não podia ter sido melhor do que essa.


(Tema: Uma crônica sobre Paraty)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Garotas crescidas não choram."

(Big Girls Don't Cry - Fergie)




Eu sei que era uma coisa só dela. Uma coisa que ela não queria contar para ninguém. Mas mesmo assim quatro pessoas estavam assistindo uma das pessoas mais fortes que eu conheço desabar. E ninguém, mas ninguém daquele mundo sabia como agir. Podíamos fingir que não, deixar para lá. Mas estavam lá. Lá, logo ali naquele rostinho de anjo. Lágrimas. Lágrimas cristalinas de pura tristeza escorregando pelo seu rosto e caindo na apostila de história que ela segurava de cabeça baixa, desabado baixinhos, sem muito escândalo, enxugando os olhos para ninguém ver sua tristeza.
Carros passavam na rua movimentada, mas nenhum trazia a resposta daquela tristeza tão amarga, mas também tão doce que escorria dos olhos daquela garota, daquele anjo.
De repente ela enxugou os olhos pela última vez, cansada de chorar. Levantou a cabeça decidida, limpou a tristeza de sua apostila e sorriu. Um sorriso não muito convencido, mas era um começo. Olhos para seus espectadores e fingiu que nada daquilo que havíamos acabado de ver nunca tinha acontecido e seguiu para dentro do ônibus, onde foi embora, seguindo em frente. Para bem longe de onde, ao meu lado, o anjinho de sua alma ainda chorava. Chorava mais baixinho, ignorado. Mas chorava.

sábado, 1 de setembro de 2012

"Se pudéssemos ter esta vida por mais um dia, se pudéssemos voltar no tempo..."

(Moments - One Direction)




Andamos por uma rua movimentada. Carros, casas, tempo. Tudo parecia nos levar ao passado. Andamos devagar, vagando sem pressa, sem compromisso, só pensando que um dia chegaríamos.  E chegamos.
Cheiro de velho, ar de antigo, tudo que nos rondava parecia que podíamos nos levar para um passado distante, desconhecido. Risadas, choros, conversas escritas à nossa volta que em uma vida não daria tempo de conhecer todas elas. Livros. Livros por todo lado. Livros novos, livros de 1942, revistas Playboy antigas. Tudo à nossa disposição. Até que fomos “expulsas” do sebo. Mas logo entramos em outro.
Passamos a tarde sentadas no chão daquele outro sebo ali da esquina. Vendo livros nunca vistos. Vendo livros muito vistos. Livros que o tempo já havia chegado há tempos, amarelos meio palha, com muitas histórias dentro dele, além da escrita pelo autor. E só por causa disso, por ter uma história a mais para ser descoberta, valia apenas 15 reais. 5 reais. 
Passamos aquela tarde de outono sendo observadas pelos olhos da garota ruiva do balcão, que nos olhava intrigada, diferente da menina que nos havia expulsado do primeiro sebo. Olhava-nos falar, rir e escolher que livro levar. Olhava-nos passear por aquele pedaço de paraíso. Olhava-nos dar o dinheiro felizes por aquele dia ter acontecido. Olhava-nos ir embora. Mas vamos voltar. Não se preocupe porque iremos voltar. Porque as histórias não acabaram. 

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

"Por onde andei, enquanto você me procurava..."



(Por Onde Andei - Nando Reis)

De repente eu percebi que olhava para dentro dos ônibus, dos bares, nas calçadas, em todo lugar, em qualquer lugar que eu estivesse, esperando lhe encontrar. Em qualquer lugar, em qualquer hora, de qualquer modo, sem cortesia, sem nada. Só procurava ver o rosto dele.
E o mais estranho era que todos os rostos começavam a parecer todos iguais. Iguais ao dele. E os ônibus passando pela rua, cheios de pessoas, mas tristemente vazios dele, pareciam uma oportunidade de me levar  até sua casa, até nosso inesperável encontro.
Mas meu carro andava. Afastando-me da possibilidade de meus sonhos se tornarem realidade.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

"Debaixo dos caracóis, dos seus cabelos."



(Debaixo dos Caracóis do Seu Cabelo - Caetano Veloso)

Ah, não briguem. Por favor não briguem. Senão a menina chora. Senão a menina não vai mais acreditar contos de fadas. Senão a menina vai querer sair do carro vermelho parado naquele trânsito e ir para bem longe. Senão ela vai crescer e ficar com medo de amar. Se amar é brigar com o amado, para que amar?
Não, não gritem. Senão vai deixar todos os sentimentos dela surdos. Senão vai deixar o ódio dela louco para imitar a gritaria de vocês dois.
Não, não fiquem em silêncio. Senão o vento frio da tristeza naquele sábado escaldante vai entrar pela janela do carro que a menina com caracóis ruivos na cabeça se apoia e substituir o lugar das palavras e deixar a menina fria. Se não o barulho das buzinas e do trânsito vai entrar no carro e cobrir os sentimentos já surdos da pequena menina que flutuam ao vento.
Isso, peçam desculpas. Senão a ruiva menina não aprende a perdoar.

(Tema: O que você viu ao olhar para fora?)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"Era uma casa muito engraçada..."

A velha senhora regava as plantas, que a cada dia puxavam mais e mais sua vitalidade e transformavam em beleza.
A casa branca em contraste com o chão de seu jardim com lajotas vermelhas puxava minha atenção toda a vez que eu passava por ela, mas sempre com pressa, nunca parava para deslumbrá-la. Mas naquela manhã de terça-feira, meus pés perderam a velocidade até pararem e desfrutei minha vida naquela casa com ar de antiga.
Me vi regando as rosas todas as manhãs, ouvi o som da feira das terças-feiras sendo barrado pela película de paz que cercava a casa. Me vi lendo um livro deitada no tapete da sala, e lendo o jornal no sofá na frente da janela.
Então, no meio do meu sonho, a velha senhora ergueu seus olhos das rosas e olhou para a garota com um violão nas costas, All Star nos pés, brilho nos olhos e a cabeça nas nuvens. Sorriu e eu, assustada por ter sido arrancada de meus pensamentos, continuei a andar.
Não sei se estava louca ou não, mas naquele sorriso da velha senhora e nos brilhos de seus olhos eu pude ler: "Bem vinda ao lar."


(Tema: O que você viu ao olhar para fora?)