terça-feira, 18 de dezembro de 2012

"E pobre desses rapazes, que tentam lhe fazer feliz."


Todo o brilho daquele rosto claro feito porcelana estava, com certeza, fosco por causa das quantidades de nuvens que cobriam o céu e a alma da menina. Coitada da menina. Segurava com tanta força o colar em sua mão, que a mesma tremia. Mordia o lábio para não aparentar nenhuma emoção. Olhava com tanta esperança perdida para o céu, que era como se seus problemas fossem criar asas e voar lá para cima. Pensava com tanto carinho nas lembranças que aquele colar trazia consigo, que até parecia que elas iam vir correndo para o presente.

Mesmo que o ônibus estivesse quase vazio, ninguém pareceu reparar no som do estalo que sua mão fez quando a abriu com o susto quando um pingo de chuva caiu na ponta do seu nariz. Nem o barulho do seu colar quicando no chão sujo do ônibus. 
A menina olhou para o céu como se todos os seus problemas tivessem criado asas e voado lá para cima. Sorriu com a luminosidade que a chuva tinha levado embora e que agora devolvia para a devida dona. Sorriu porque, mesmo com o temporal que estava para cair em cima de São Paulo naquela quinta-feira nublada, o sol brilhou em algum lugar entre as nuvens e um fio de luz iluminou  seu sorriso, seu rosto, sua alma. Sua vida.

domingo, 16 de dezembro de 2012

"Dentro do som do silêncio."



(Sound of Silence - Simon & Garfunkel)

Lá de cima, bem de cima tudo parecia bem. A mesma agitação, o mesmo barulho, as mesmas luzes da Grade São Paulo. Naquela noite, por não ser muito diferente das outras, tudo parecia bem. Mas não estava. Pois se todos os carros desligassem o motor, se todas as luzes se apagassem, se todas as vozes se calassem, se todos parassem por um instante, iam ouvir. Iam ouvir o choro da garota. 
Não precisava-se de muito esforço, ela chorava alto. Chorava, soluçava, suplicava. Revivia o passado e se perguntava o porque de tudo aquilo. O porque daquele choro ardido, daqueles sonhos destruídos, daqueles dias perdidos.
As respostas vinham junto de mais lágrimas de desgosto. Desgosto da vida, desgosto do passado, do presente do futuro. Desgosto por procurar respostas e não achar nenhuma além daquela:Ele havia ido embora. Deixado-a ali, chorando, sozinha.
Se todos os carro desligassem o motor, se todas as luzes se apagassem, se todas as vozes se calassem, se todos parassem por um instante, iam ver como a garota suplicava por um futuro diferente.
Mas tudo continuou igual. A mesma agitação, as mesmas vozes, as mesmas luzes da Grande São Paulo. E nem erra preciso muito esforço. Ela chorava tão alto...

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

"Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo."


(Aquarela - Toquinho)

Em um relance com os olhos eu vi. Dentro de sua pasta. Da pasta que você levava para casa todo dia. Na primeira "subpasta". era aquela em sanfona, preta, com elástico preto também, do jeito que você havia procurado tanto,  que eu tinha ajudado a procurar em uma terça-feira chuvosa em que você não queria voltar para casa. Aquela que você levava todo dia para casa. Na primeira subpasta estava ela, a folha da minha  monobloco, que estava em branco, mas ao mesmo assim guardava uma história, e o mais importante: você guardava-a.
Eu lembrava daquele dia. O dia em que você pediu uma folha e ninguém ouviu. E Então, rápida como um leopardo, eu tirei minha monobloco e, ahá, dei uma folha para você. 
Nãos sei se você se lembra, muito menos com tantos detalhes assim. Mas eu havia repassado tantas vezes os meus movimentos naquela aula de ciências que o professor só falava, falava, falava, por causa do que aconteceu depois. Você simplesmente olhou-a e colocou embaixo da sua carteira. Ignorada, rejeitada. E eu fiquei pensando o que eu fiz de errado para você não querer  minha folha. Mas agora eu sei. Você a guardou. Na primeira subpasta da sua pasta sanfona preta. Ela está lá. Perfeitamente branca. E eu aqui. 
Perfeitamente feliz.  

"A onde estiver, espero que esteja feliz."



(A Onde Estiver - NxZero)

"Somos muito bebes, né?"
No meio da gritaria que ocorria naquela sala, aquelas palavras flutuaram, até meus ouvidos e eu comecei a rir. "Qual o problema de sermos bebes?" eu me perguntava. Bebês são alegres, risonhos, verdadeiros. Choram quando acham que tem que chorara, não tentam ser perfeitos ou agradar alguém. Apenas são eles mesmos, procurando um jeito de serem felizes no meio de tanta tristeza que há nesse mundo. Tentam agradar à eles, só à eles, mais ninguém. Qual o problema de sermos alegres, risonhos, verdadeiros? Qual o problema de tentarmos ser felizes nesse mundo? Qual o problema de rirmos da vida? Porque uma vez um passarinho sussurrou no meu ouvido que, se não rirmos da vida, ela ri da gente.
Ser bebê quando mais velho deve ser a melhor coisa da vida. As pessoas hoje em dia só sabem reclamar da vida, ficam entendiada e sem graça, sem riso. Então, que sejamos bebês! Sejamos alegres, risonhos, felizes! A partir de agora, sorriremos para a vida. Porque eu juro que a vida é bonita. E seu riso também.  

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

"Não me conte seus problemas."



(Não Me Conte Seus Problemas - Ivete Sangalo)

A folha em papel branca. Apenas aquela seta piscando calmamente, afinal, aquilo acontecia todo dia: Ligar o computador, Facebook, Tumblr, YouTube, Blog. Escrever alguma coisa. Mas o quê? a seta piscando me tirava do serio, me tirava o sono. Coloque uma música! Música é sempre bom, alivia a alma, expressa o coração.
De repente lá estava eu, ao som de qualquer música, fazendo qualquer coisa menos escrever. Voltava á pagina em branco, com a seta torturante esfregando na minha cara que eu não conseguia escrever algumas simples frases. Mas eu lutava contra el e começava a escrever qualquer coisa. E apagava. E escrevia. E apagava. Até que o muito tarde chegava e eu ia dormir sem ter escrito nada. Ia me deitar e de repente, uma ideia me vinha como um gavião. E meus problemas tinham acabado. Pelo menos aquele.

"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça."


(Garota de Ipanema - Tom Jobim)

Ali, no cantinho daquela churrascaria, estava uma menina de cabelos cacheados que desciam pelas suas costas até a vista não poder mais ver, meio encolhida, meio com medo por ter tantas pessoas falando um língua quase desconhecida a sua volta. Meio em silêncio, enquanto observava as outras pessoas que estavam na mesma mesa que ela comerem. 
No meio de tanta muvuca que uma churrascaria pode ser, ela parecia um ser de outro planeta, tão quieta, tão graciosa enquanto comia aos poucos toda a comida que ofereciam a ela. Tão educada no meio de tantas palavras que cuspiam da boca para fora para ela, só para deixá-la confortável, que na verdade era a última coisa que ela podia estar naquele momento. Mas ninguém reparava, então ela continuava lá.