quarta-feira, 19 de setembro de 2012

"E ainda espero, respostas."

(Respostas - Skank)

Fale baixinho. Isso mesmo, bem baixinho. Senão vão ouvir as coisas banais, mas muito importantes, que estão saindo de nossas bocas e que, no dia seguinte, iremos fingir que não sabemos de nada. Que não falamos nada. Coisas fúteis, que nos unem por uma noite, de algum jeito. Então fale baixinho.
Risadas baixas, sem muito escândalos. Que tosse escandalosa, garota!, mais baixo, mais baixo. Eu sei que é um pouco retardado o que estamos fazendo, como estamos agindo. Mas é bom para nós. É bom para todas nós.
Não vamos dormir agora não, nem pensar. Só mais alguns minutos. Está com sono? É eu sei, eu também. Mas aguentemos. Só mais cinco minutos, prometo de mindinho. Vocês querem também que eu sei.
Vai por mim, está sendo bom. Mesmo todas nós estando com sono. Mesmo todas nos estando contando coisas sem sentido. Pois na noite seguinte diremos: Venham! Venham! Vamos conversar. Vamos ter aquela conversa de novo.

(Tema: Uma crônica sobre Paraty)

"Que vem e que passa."



(Garota de Ipanema - Tom Jobim)

No meio de tanta informação do lado oeste de São Paulo ela parecia tão amarela, tão frágil, tão livre. Uma borboleta voando perto daquele monstro de metal parecia uma miragem voando por ai, esperando para ser vista.
Mas ninguém via.
Olhando para todos os lados só via pessoas apressadas, estressadas, "igualizadas" andando pela pequena faixa de pedestres de uma rua do lado oeste da cidade, sem nem ao menos perceber o bater das asas da pequena borboleta amarela.
Mas ela nem parecia notar.
Voava decidida por entre aquelas pessoas estranhas e o ônibus colossal, arranjando espaço para que sua delicadeza não se desmanchasse. Parei e deixei que a borboleta passasse. E ela seguiu seu caminho. Tão amarela, tão frágil, tão livre. E eu sorri e segui meu caminho. Tão cinzento, tão duro, mas agora tão livre.

(Tema: Unidade)

"Não precisa dizer adeus."

(The Call - Regina Spektor)




Fazer uma crônica nunca tinha sido uma tarefa muito difícil. Mas agora, escrever algumas palavras no computador parecia... Parecia... Na verdade não sei bem o que parecia. Mas era difícil. Talvez por ter tantos sentimentos camuflados no meio das palavras que eu usava para tentar expressar tudo que havia acontecido naqueles três dias, eu travava. E sentia que algo estava faltando. Uma frase, uma palavra. Talvez até um texto inteiro.Um texto inteiro para falar como aquilo tudo tinha sido um sonho. Para mostrar que ia ser difícil de deixar a vida seguir normalmente, sem que todas as vezes que eu visse uma foto, um nó se formasse em minha garganta.
Mas a vida continuava. Tão rápida como antes. Como um anestésico para a saudade. Mostrava que talvez existisse vida depois de tudo que havia acontecido em tão pouco tempo. Mostrava que não era tudo que tinha ido embora. Não para sempre. O que aprendemos continuava lá, as pessoas, as fotos. As lembranças. Lá no que chamamos de mente, que guarda tudo isso, aguardando pacientemente o coração parar de choras de saudades para começar uma fase nova da vida velha. Cheia de despedias como essa.
E sentada aqui escrevendo isso, penso, repenso, e chego em uma conclusão não muito boa, mas agora, nesse momento, é bom de se pensar: "Se há despedias, é por que houve chegadas."
E uma chegada não podia ter sido melhor do que essa.


(Tema: Uma crônica sobre Paraty)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

"Garotas crescidas não choram."

(Big Girls Don't Cry - Fergie)




Eu sei que era uma coisa só dela. Uma coisa que ela não queria contar para ninguém. Mas mesmo assim quatro pessoas estavam assistindo uma das pessoas mais fortes que eu conheço desabar. E ninguém, mas ninguém daquele mundo sabia como agir. Podíamos fingir que não, deixar para lá. Mas estavam lá. Lá, logo ali naquele rostinho de anjo. Lágrimas. Lágrimas cristalinas de pura tristeza escorregando pelo seu rosto e caindo na apostila de história que ela segurava de cabeça baixa, desabado baixinhos, sem muito escândalo, enxugando os olhos para ninguém ver sua tristeza.
Carros passavam na rua movimentada, mas nenhum trazia a resposta daquela tristeza tão amarga, mas também tão doce que escorria dos olhos daquela garota, daquele anjo.
De repente ela enxugou os olhos pela última vez, cansada de chorar. Levantou a cabeça decidida, limpou a tristeza de sua apostila e sorriu. Um sorriso não muito convencido, mas era um começo. Olhos para seus espectadores e fingiu que nada daquilo que havíamos acabado de ver nunca tinha acontecido e seguiu para dentro do ônibus, onde foi embora, seguindo em frente. Para bem longe de onde, ao meu lado, o anjinho de sua alma ainda chorava. Chorava mais baixinho, ignorado. Mas chorava.

sábado, 1 de setembro de 2012

"Se pudéssemos ter esta vida por mais um dia, se pudéssemos voltar no tempo..."

(Moments - One Direction)




Andamos por uma rua movimentada. Carros, casas, tempo. Tudo parecia nos levar ao passado. Andamos devagar, vagando sem pressa, sem compromisso, só pensando que um dia chegaríamos.  E chegamos.
Cheiro de velho, ar de antigo, tudo que nos rondava parecia que podíamos nos levar para um passado distante, desconhecido. Risadas, choros, conversas escritas à nossa volta que em uma vida não daria tempo de conhecer todas elas. Livros. Livros por todo lado. Livros novos, livros de 1942, revistas Playboy antigas. Tudo à nossa disposição. Até que fomos “expulsas” do sebo. Mas logo entramos em outro.
Passamos a tarde sentadas no chão daquele outro sebo ali da esquina. Vendo livros nunca vistos. Vendo livros muito vistos. Livros que o tempo já havia chegado há tempos, amarelos meio palha, com muitas histórias dentro dele, além da escrita pelo autor. E só por causa disso, por ter uma história a mais para ser descoberta, valia apenas 15 reais. 5 reais. 
Passamos aquela tarde de outono sendo observadas pelos olhos da garota ruiva do balcão, que nos olhava intrigada, diferente da menina que nos havia expulsado do primeiro sebo. Olhava-nos falar, rir e escolher que livro levar. Olhava-nos passear por aquele pedaço de paraíso. Olhava-nos dar o dinheiro felizes por aquele dia ter acontecido. Olhava-nos ir embora. Mas vamos voltar. Não se preocupe porque iremos voltar. Porque as histórias não acabaram.