quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

"Ela é uma deusa, ela é mulher de verdade."



(Ela Vai Voltar - Charlie Brown Jr.)

De longe não dava para ver, quando ela vinha andando devagar, cantando baixo. Não era nem um pouco visível. Parecia que o vento entre ela e ele, ela e eu, ela e você levava embora tudo de mágico que existia nela.

Na verdade, de longe, ela nem me chamaria a atenção  confesso. Seu cabelo comprido, meio embaraçado, como todos outros. Seus olhos, bom, não chamam muita a tenção, são meio castanhos e, afinal, quantas pessoas existem no mundo de olhos castanhos?! Seu sorriso meio torto, sua risada meio alta. Parecia tudo meio. Meio estranho, meio apagado, meio normal.
Mas quando ela ria para o chão e depois jogava seus cabelos para trás dos ombros, ele criava vida. Quando você estava do lado dela, via que no fundo dos seus olhos havia uma luz do alem que que os iluminava de um jeito incomparável. Quando ela ria, mas ria de verdade, todos riam junto. E quando ela falava as coisas que se passavam em sua cabeça, todos a olhavam, impressionados.
Porque ela não era meio. Nem inteira. Ela era ela, pura leve livre e solta. E era perfeita só por ser igual a ela. E a mais ninguém.



To começando a esquecer de como é ter você aqui comigo.
Começando a esquecer de como é seu cabelo, seu cheiro, seu riso.
Mas não quero te esquecer não, viu amor?
Quero você bem pertinho de mim para sentir seu calor.
Sem nem ao menos passar pela minha mente,
Que entre eu e você poderia haver algo diferente.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Cartas para você.

"- Poderíamos ter sido felizes... - você murmurou lá pela decima dose, já meio lento por causa do álcool.
- Acredito em você. - disse sem muita convicção, passando o dedo pela aborda do copo esquecido, ainda meio cheio.
- Estou falando serio. - você insistiu, com a voz arrastando, mas com um tom que me fez levantar meus olhos do copo e olhar seus olhos cansados. - Podíamos mesmo... Daquele jeito que você falava para mim, que lia nas entrelinhas dos livros, que ouvia nos refrões das musicas. Nós conseguiríamos, se quiséssemos.
- Então talvez não queríamos. - falei, já meio cansada pela teimosia que você tinha de me relembrar sempre que podia daqueles momentos tão duros.
Durante o silêncio que se seguiu, o tempo passou. Não posso lhe dizer quanto exatamente, porque aposto que não se lembra nem de qual era a bebida que você estava tomando naquela noite, e olha que você pediu a mesma dez vezes. Só sei que estava contando as batidas do relógio que estava pendurado na parede quando você me resgatou de meus pensamentos.
- Você sabia muito bem, não sabia? - olhei para você com as sobrancelhas franzidas, sem saber o que aquelas palavras que você havia atirado entre a gente significavam. - Sabia que a gente não era para sempre. - você explicou, olhando diretamente para mim. Abaixei os olhos novamente para o meu copo, envergonhada. Odiava olhar para você e ver toda a dor do passado voltando ao presente, se mostrando pelo seus olhos de que eu era a culpada de tudo. - Dava para perceber. - Você continuou, com ar pensativo, se é que ainda conseguia pensar em alguma coisa. - Estava em sua palavras, nos seus atos, no jeito em que todas as manhãs acordava sorrindo e em que todas as noites is dormir sonhando, nos seus olhos. - dava para ouvir a dor em sua voz enquanto você fazia aquele discurso que mais parecia uma acusação. Você procurou pelos meus olhos, que continuavam olhando para a mesa enquanto disse: - Está nos seus olhos.
Olhei para você e vi que dentro daqueles olhos castanhos profundos havia compaixão. Um mar de compaixão que me encarava e lia minha alma.
Suspirei e olhei ao redor, procurando uma saída, uma brecha naquele momento sufocane que você havia me colocado. Meus olhos acabaram pousando no meu copo esquecido, ainda meio cheio de alguma bebida que não me lembro qual era, que bebi em alguns segundos, tossindo meio fraco no final. Seus olhos não saiam de mim, acompanhavam todos os meus movimentos, e, já os meus, não saiam do copo, agora vazio.
- Quando você viu? - você perguntou de repente.
- Vi o quê? - perguntei, meio cansada por você não conseguir acabar um pensamento. Devia ser o álcool. Ou a vida.
- Que eu não era "O Homem da Sua Vida"? - você completou com um tom irônico  fazendo uma voz completamente escrota no final.
Parei um pouco e pensei. Pensei em todos os dias que havia passado com você. Todas as manhãs pareciam felizes em minha memoria, mesmo depois do fim. Mas então eu lembrei. Lembrei daquela manhã que, com certeza, não saia de sua cabeça. Que não saia em nenhum instante, nenhum minuto sequer da vida de merda que você levava desde então. Sem a dó que eu de você quando havíamos sentado naquela mesa no inicio da noite mais em mim, falei em um folego só.
- No dia em que eu acordei e me senti no lugar errado. Era o apartamento errado, o céu nublado errado, o cereal errado. - finalmente tirando os olhos do meu copo e olhando diretamente para você, disse o que eu sabia que ia acabar com sua pessoa: - O homem errado.
Me arrependi de ter dito aquilo no exato momento que saiu de minha boca. Você ficou com um cara horrível  Mas era você que havia começado aquilo tudo, você que havia tocado naquela ferida que ainda doía tanto. E, se você queria um jogo sujo, eu não ia deixar nenhum canto limpo. Mas ainda sim me deu um aperto no coração. Você abaixou a cabeça, olhando para a mesa, mas mudou de ideia e chamou o garçom, que eu mandei embora. Paguei a conta e te tirei daquele pedaço de inferno te levando para casa.
Nenhuma palavra foi trocada entre nós durante o trajeto "porta daquele bar imundo/sua casa". Te pus na cama, te cobri e fiquei do seu lado até você dormir, murmurando qualquer musica calma que eu me lembrasse. Me levantei e fui em direção a porta mas, quando estava a abrando, você sussurrou da cama a frase que me fez parar naquele momento, parar nesse momento, pegar essa maldita folha e escrever essa maldita carta.
- Podíamos ter sido felizes...
- Acredito em você. - eu disse com lágrimas nos olhos. - Realmente acredito.
E poderíamos, Ed. Podíamos mesmo ter sido felizes.
Mas não fomos."