quinta-feira, 25 de outubro de 2012

"A luz dos olhos teus."



(Pela luz dos olhos teus)

Olhos para mim dizem muito sobre as pessoas. Olhos fixos, olhos cerrados, tantos estilos de olhares que mostram um pouco do que a pessoa é. 
Mas uma coisa que eu percebi é que todos os tipos de olhares, todas as cores de olhos, todos, sem exceção, tinham seu brilho. Todos exibiam a alegria que existia dentro da alma, que subia e transbordava pelos olhos, deixando-os vivos, alegres. Brilhantes.
Até o dia em que eu olhei dento, lá no fundo dos olhos dela, da Menina dos Olhos Apagados.
A Menina dos Olhos Apagados sempre estava sorrindo. A Menina dos Olhos Apagados sempre estava falando. A Menina dos Olhos Apagados sempre ajudava as pessoas. Mas a Menina dos Olhos Apagados nunca estava feliz.
Aquele brilho de todas as manhãs quando ela abria a janela nunca contagiava sua alma, lustrava seus olhos. Nunca estava em seus olhos. Ela sorria, mas nunca de verdade. Parecia feliz, mas nunca por inteiro. Dava um aperto no coração, um nó na garganta, um frio na espinha ao olhar para aqueles olhos daquela menina.  Da Menina dos Olhos Apagados.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

"A gente não se cansa, de ser criança, da gente brincar da nossa velha infância."

(Velha infância)

Uma caixinha no canto do quarto espera para que alguém a ache. Só está ali, esperando. Afinal, não pode fazer mais nada do que isso, é uma caixa! Então só espera. O que ela espera? Bom, espera  por alguém, talvez espere até por você, só quer que alguém a abra. O que tem lá dentro? Ah, sabia que ia essa pergunta ia chegar.
Lá dentro há uma infância. Guardadinha, tudo junto e misturado, brinquedos compartilhando o espaço com momentos e sonhos, do jeitinho que a garotinha crescida deixou para você achar. 
Se você abri-lá irá encontrar  uma bonequinha de pano um pouco rasgada por causa do uso. Com um vestidinho que um dia foi listrado, mas que desbotou. Ah, você não imagina o tanto de histórias que ela tem para contar. Cada lágrima, cada sorriso, cada frase, que talvez nem em uma vida dê para contar. Talvez até dê, mas não vem ao caso.
Se você tirar a boneca lá de dentro, irá encontrar cartas sem sentido nenhum. Apenas rabiscos de uma escritora sem uma fonte definida, morros que uma garotinha que nem escrever sabia fez com a caneta de pena muito cara do pai.
Se tirar a cartinha de mentira, irá encontrar umas palavras verdadeiras escritas do jeito errado. "R" ao contrario, "fazenda" com "M" em vez de "N" e "fazer" com "V" em vez de "F".
Depois de todas essas tentativas de escrita, vem livros. Quatro, na realidade. Vermelhos, com capa dura, antigos comprados em um sebo do centro de São Paulo com o título "Guerra e Paz" pequenininho na capa. Não que a garota conseguisse entender. Mas as figuras eram legais. Então ela passava tardes de invernos folhe-olhando o livro, imaginando que um dia leria-o.
Se você continuar olhando vai encontrar uma estrelinha apagada. Essa noite sim, ela foi especial. Foi a noite que a garotinha nem dormiu depois de ver o Peter Pan pela primeira vez e nem sequer ousou a  piscar o olho, olhando pela janela, esperando-o. Mas ele nem veio. Deixou-a esperando, acordada, olhando as estrelas, especialmente essa, para não esquecer como chegar lá. "Pegue a segunda estrela à direita e siga reto até o amanhecer." ela repetiu baixinho. Amanheceu.
A garotinha simplesmente piscou o olho durante aquela noite tão longa, e quando viu, estava fazendo essa caixinha para você encontrá-la, mas especialmente, para você cuidar bem dela.
Tome cuidado porque é frágil.
Tome cuidado porque a garotinha gosta muito dela.
Então cuide bem, porque você não vai ter outra caixinha além dessa.

(Tema: Uma crônica de lista)

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Vou sentir falta de você começando brigas, e eu caindo, gritando que estava certa."



(We Are Nevre Ever Getting Back Together)

Os dois estavam ali, achando que o que estavam pensando estavam certo, "discutindo a relação" que na verdade não existia e nem existe, falando um para o outro como eles eram grossos e como não gostavam quando um fazia isso ou quando o outro fazia aquilo.
Era engraçado como os dois agiam de modos tão diferentes, ela toda louca e colorida, e ele todo tímido e reservado. Ele esperando que ela pedisse desculpas e ela pensando que talvez a culpa não fosse dele, mas com o ego alto demais para pedi-las logo. Não, claro que não. A culpa era dele. Não, claro que não, como pude pensar isso? era dela! 
No fim era dos dois.
"Peça desculpas para ele."
"Mas a culpa não é minha. É dele!"
"Deixa isso para lá!"
"Vai uma parte da culpa também é sua"
"Você me irrita!"
Bla, Bla e mais Bla. No fim pediram as maravilhosas desculpas. Mas "discussão da relação" ainda não tinha acabado. Nem nunca acabaria.

"Ensurdecido pelo silêncio, foi alguma coisa que eu fiz?"



(Astronaut)

Os dois estavam no ponto esperando que o destino fizesse alguma coisa para tirá-los daquele silêncio meio desconfortável,  de um passado distante, que nenhum dos dois nem sequer lembrava, mas ainda atrapalhava que alguma palavra que se dirigisse um ao outro saísse da boca de nenhum dos dois.
- Por que você não foi no ônibus?
Nem ela podia acreditar que alguma coisa tinha saído da boca dela. Agora seus olhos encaravam os rosto meio pasmo do garoto, esperando alguma resposta.
- É... - ele ainda pensa um pouco, meio que acordando de um sonho e finalmente, para o sossego da menina ele continua - Vou para a casa do meu pai.
- Como ele está?
Apenas perguntas por pura educação que os pais deles deram algum dia pairam no ar. Alias, apenas educação os mantem ali. E um ônibus, que naquela hora parecia demorar mais de uma eternidade para chegar.
- Ele vai bem, obrigado. E sua irmã? Conseguiu a vaga na universidade?
- Sim, mas naquela lááá em Campinas. Esta morando lá agora, com umas amigas. 
- Ainda bem, assim você consegue o seu próprio quarto, aquele que você tanto queria.
Ela ri baixinho e os dois começaram a lembrar. Como se começassem a ler um livro pela segunda vez e perceber que já tinham lido. Começaram a perceber que a tensão no ar do passado começa ser substituída por uma proximidade inexplicável. Começaram a perceber que aquele tipo de conversa entre os dois já havia acontecido naquele passado distante que os dois nem sequer se lembravam. E no meio de tantas lembranças desfocadas voltando para suas mentes, o ônibus chegou.
- Boa sorte com o quarto. Mande um beijo para sua irmã.
- Claro, até mais.
- Até.
E ele foi embora. Mas as lembranças desfocadas continuava na cabeça dela. E ela continuou ali. Pensando. Pensando naquele passado que haviam re-esquecido. Onde os dois eram felizes. 
Juntos.